O dia em que fui mais feliz

O vento soprou o cheiro de morte que a vela emanava em ti. Morte em vida e das piores. Vestirei luto por sua ida, colocarei um véu sob a cabeça por longos dias, levantarei seu caixão com uma força hercúlea da qual não sabia que tinha, chorarei como carpideira paga para o serviço, jogarei o primeiro palmo de terra em sua cova e me despedirei de seu corpo putrefato em jazigo raso.
Depois dessa cena digna do Oscar de melhor atriz, sorrirei a alegria de sua partida, agora livre das amarras que me impunha, entoarei hinos inaudíveis e proferirei palavras chulas apenas pelo prazer de dizê-las, assim, em voz alta. Talvez faça uma festa que deixe Baco envergonhado, talvez conheça o mundo inteiro em suas piores facetas, talvez conheça corpos de todas as cores e sabores e outros olhares desde os mais pudicos aos mais sacanas, talvez... É, estou mais feliz sem você.  


Júlia Siqueira

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