Muitas vidas, um ensinamento
Aquele homem
franzino e tristonho sentado naquela mesa de canto no bar mais movimentado da
cidade sou eu em uma vida anterior. Era solitário, como a primeira estrela que
desponta quando o sol começa a sumir no horizonte nos dizendo que o dia se
finda, e possuía qualidades que nem mesmo sabia. Era uma alma jovem, um
espírito que precisava se depurar com o tempo, precisava passar por tantas
provações para se tornar brilhante e radioso, assim como o ouro necessita ser
posto à prova em altas temperaturas para dali sair uma bela joia. Bebericava
ali algumas doses de um conhaque ruim e meditava em tudo aquilo que havia visto
naquela vida até ali. Morreria de cirrose hepática num leito improvisado no
fundo da casa de uma vizinha bondosa.
Na vida
seguinte, havia articulado para que tudo fosse diferente e, depois de tantas
coisas que vivi em experiências anteriores, acreditava que seria tudo melhor.
Mas um véu de esquecimento cobre nossos olhos e as promessas ficam adormecidas
esperando uma carga alta de adrenalina para emergir. Não cumpri metade daquilo que
quis fazer. Voltei.
Sentei num
banco numa praça arborizada e decidi escrever os planos de minha vida seguinte.
Depois de muito pensar e ponderar escrevi em letras gigantescas na folha branca
a palavra APRENDER. Não queria programar nada, apenas imaginei uma vida de
aprendizados, se fossem doloridos, que tivesse força para suportar o fardo, se
fossem momentos de deleites que eu soubesse agradecer. E entendi, que ainda que
a vida seja pesada, um fardo gigantesco que por vezes queremos abandonar no
meio do caminho, ela é no final um grande e eterno aprendizado.
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