As cartas que nunca mandei




Primavera
 Deveria te odiar pelo que me fizeste passar, mas só consegui chorar enquanto bebia alguns goles da pinga ruim do armário do meu avô e lembrar em que momento a massa desandou, o bolo solou e você teve que procurar alento em braços que não eram os meus. Li vários livros depressivos ou ouvia qualquer música e chorava, mas aos poucos estou me reerguendo. Dói ainda lembrar e cada dia que parecia eterno. Tentei fixar minha mente na carreira, trabalho e amigos e você passou a ser apenas a saudade que gosto de ter. Masoquista eu sei, gosto de sofrer. 

Verão
Calor, praia, sol, verão. Dizem que é a estação da pegação. Eu, porém não ando “pegando” ninguém. Tudo eu comparo, desde a abordagem até o sexo, e as pessoas me fazem ficar com tédio muito facilmente. Lembro-me de você ainda, pelas poucas ligações que ainda me faz e que corro rapidamente pra atender no primeiro toque. Considero um amigo, alguém que quero bem, apenas e tento reafirmar a mim isso a todo instante. Será?

Outono
Que droga! Me descobri cuidando de você ainda que longe. Preocupei-me com a cirurgia que fez perto das férias e só recebi recados monossilábicos como resposta. Masoquista! Eu sei. Todos nós gostamos de amar e dispensar tempo a quem não nos dá a mínima e dizem que o fazemos pelo simples fato de nos tornar mártires de nossos próprios sentimentos, eu, contudo acredito que quando se ama alguém de verdade (amor e não paixão) se faz de tudo mesmo que seja um mínimo diante de tudo o que se fez um dia.

Inverno
Cartas guardadas. Nova etapa: viver. E por vezes viver não é lembrar e sim esquecer!

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