Lá de onde eu venho


Eu venho de uma cidade onde as pessoas se conhecem, interagem umas com as outras, trocam além de experiências de vida as receitas que aprendem na televisão. Eu venho de um lugar onde a rua se parece mais com uma extensão da nossa própria casa tamanho o entrosamento entre os vizinhos, vizinhos estes que mais se parecem com parentes próximos.
Lá de onde eu venho, o orvalho da manhã, o barulho do mar e o canto do sabiá no topo das árvores é o anúncio que mais um dia vai nascer. Anuncia-se pra nós que as crianças têm que ir pra escola, que o leiteiro vai passar daqui a pouco e que a padaria já tem pão quente pra o café.
As pessoas na minha terra andam na rua cumprimentando uns aos outros; bom dia, boa tarde, boa noite é como se um mantra sagrado da amizade que une as pessoas. E por falar em amizade, nessa minha cidade, isso é uma coisa séria. É muito mais que conversa de MSN, do que ser amigo de alguém no Facebook ou no Orkut, afinal muita gente que você nessas redes sociais nem falam com você direito na rua. Meus conterrâneos percebem a amizade de uma forma diferente. Primeiro, eles perceberam que pra ser realmente amigo de alguém é preciso quem é, embora seja difícil se mostrar quem é realmente nessa sociedade em que vivemos na qual as máscaras se sobrepõe umas as outras e nem se sabe mais o que é máscara e o que é você de verdade, mesmo assim o povo lá de onde eu venho conseguem ser a diferença. Eles não têm medo de serem rotulados por ser o que são, porque entenderam que certos rótulos são necessários para a identificação de um produto. Lembram-se quando a KUAT, mudou a embalagem e tiveram que anunciar o que tinham feito pra não evitar que o povo migrasse pra o guaraná concorrente? Pois é, nem sempre temos a oportunidade de anunciar ao grande público que nós somos muito além dos julgamentos prévios de alguém, somos algo muito maior.
Nós na minha terra temos duas escolas. A escola que aprendemos a ler e conhecer o mundo e a que aprendemos a conhecer a nós mesmos. Nessa última, os professores são os nossos avós que sentam conosco, quando pequenos, no passeio de casa e que entre um bago de tangerina, um aceno pro vizinho e uma olhada na vida alheia nos ensina sobre a vida. Aprendemos que é amar é uma coisa que acontece de dentro pra fora, que um EU TE AMO é muito sério pra ser dito pra qualquer pessoa em um SMS no celular. Aprendemos que família é uma coisa sagrada e é pra onde a gente corre quando quebramos a cara, aprendemos ainda que o conhecimento que adquirimos na primeira escola é a única riqueza que ninguém pode roubar de nós.
Às vezes sinto saudade de lá de onde eu vim. De ir à praia e tomar banho de mar sem se preocupar com nada, de ouvir o sino tocar às 6 da tarde nos convidando para a missa, de sentar na praça e ver as folhas caindo e formando tapete verde. São tantas lembranças... Mas eu sei que é conservando essas lembranças que eu consigo ser feliz...


 Outono de 2011

Comentários

  1. Noossa, lendo seu post só fez aumentar a minha saudade da minha terrinha. MUITO LINDO.

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